Naquele tempo em que não se podia fazer a Primeira Comunhão antes dos 10 anos, um rapazinho chamado Pedro ia confessar-se a fim de se preparar para o primeiro encontro com Jesus na Eucaristia. Era também o dia da sua primeira Confissão. Fez o exame de consciência, e para não esquecer nenhum pecado, escreveu-os todos num papel, cuidadosamente.
Era uma lista comprida que aumentava com qualquer nova falta que lhe viesse ao pensamento.
“Roubei duas maçãs no mercado… Puxei pelo rabo o gato da professora… Bati na cabeça do irmãozinho Luiz e ele se pôs a chorar…Coloquei uma rã na cama da minha irmã Margarida… Joguei tinta na pia de água benta e ri quando as pessoas manchavam a testa ao fazer o sinal da cruz…Tirei os ovos do ninho dos pardais…Chamei os colegas por nomes feios e… e…”
— Você não acaba mais com esse exame de consciência? – perguntou a mãe.
— Sim – respondeu Pedro. Já estão escritos todos os pecados.
— Muito bem, filho! Agora é preciso você confessar tudo sem esconder nada, arrepender-se e fazer o propósito de emendar-se dessas faltas. Entendeu ?
— Sim, mãe. Entendi.
E lá foi o menino para a igreja, junto com outros que também iam fazer a Primeira Comunhão. No confessionário o miúdo leu a lista completa, muito sério. O senhor padre ouviu-o com paternalidade. E tinha o lenço diante do rosto. O pequenito pensava que ele chorava pelos seus pecados, mas parece que estava rindo. Quando Pedro acabou a Confissão o sacerdote murmurou:
– Que lista tão completa! Meu filho, você não quer mais tornar a pecar?
— Não, senhor padre. Nunca mais!
Depois de alguns conselhos, o bondoso sacerdote concluiu:
— Muito bem! Por penitência reze três Pai-Nosso ao Coração de Jesus e três Ave-Maria ao Coração de Maria. E agora reze o Ato de Contrição.
E deu-lhe a absolvição. Pedrito saiu do confessionário, rezou piedosamente a penitência no banco e foi para casa muito contente.
Era quinta-feira, e o dia da Primeira Eucaristia seria na Missa das 8 horas de Domingo.
Ao chegar na manhã seguinte à escola, já no portão os colegas começaram a escarnecer (debochar) dele maliciosamente:
— Olha aquele que puxou pelo rabo o gato da senhora professora! – exclamou a Luísa.
— É aquele que pôs a tinta na pia da água-benta! – ajuntou o Frederico.
— Ele roubou os ovos dos ninhos dos pardais! – declarou o Gonçalo.
— E a rã que escondeu na cama da irmã dele! – Riu-se o Carlito.
— Caramba, será que o padre contou os meus pecados para eles? – pensou o pequeno, enquanto olhava para o Pároco que chegava para a aula de Religião.
Quando entraram todos para a sala de aula, levantando-se da carteira, Pedrinho tomou coragem e perguntou:
— Padre, o senhor contou os meus pecados aos outros?
— Não, meu filho. De jeito nenhum. Que tal coisa nem passe pela sua cabeça. Você não sabe que nem eu, e nenhum outro padre, pode dizer qualquer pecado ouvido na Confissão? Por que você está me perguntando tal absurdo?
— É que os meus colegas estão falando dos pecados que confessei ontem para o senhor.
— Que coisa mais rara! – exclamou o sacerdote.
E dirigindo-se aos alunos, perguntou muito sério:
— Como é que vocês souberam dos pecados do Pedro?
— É que a Luísa encontrou na igreja o papel em que ele tinha escrito os pecados! – exclamou a menina Rosa.
— Ó Luísa, foi você que encontrou o papel do exame de consciência dele? – perguntou o Padre com severidade.
— Sim, fui eu, senhor padre. Desculpa! – respondeu timidamente a pequena.
— Você nem devia ter lido o que estava escrito no papel. E devia ter rasgado ou entregado ao Pedro, sem dizer nada!
A menina Luísa baixou envergonhada a cabeça, consciente de sua culpa.
— Meus meninos – continuou o sacerdote – a Confissão é coisa muito séria. O padre está obrigado ao mais absoluto segredo. Se dissesse o nome da pessoa e qualquer dos seus pecados, cometeria um pecado tão grave que só o Papa o poderia absolver. E quem ouvir qualquer pecado, confessado pelos outros, também tem obrigação de se calar.
Reinava profundo silêncio na sala.
— E você, Pedro, não volte a pensar que um sacerdote seja capaz de faltar ao segredo a que está obrigado. Se quiser pode escrever os pecados num papel e entregá-lo ao confessor. Como também pode ler diante dele. No fim da Confissão rasga-se ou queima-se imediatamente o papel. E assim fica o segredo entre o penitente e Deus Nosso Senhor.
Pe. Fernando Leite, S.J.
Revista Cruzada – Braga – Portugal
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