Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 04 a 10 de maio/2015 | Ano 9 – Nº 678.
Marcos Antonio Fiorito *
“Maldita seja a terra por tua causa!” (4, 17). Esta truculenta sentença divina, proferida no início dos tempos, ecoa até os nossos dias de forma fatídica. E não há quem possa revogá-la. Até mesmo o sangue redentor de Cristo não teve efeito suspensivo no que se refere a esta maldição; embora tenha feito muito mais, redimindo o pecado original e os demais pecados.
O Livro do Gênesis nos narra que Adão foi criado fora do Paraíso, do limo da Terra; porém antes do aviltamento de nosso planeta (Gn 2, 7). Ainda que a Terra não fosse o Éden, pode-se imaginar quão mais bela era antes da imprecação divina. Pois bem, após o pecado de nossos primeiros pais, o Senhor condena o gênero humano ao trabalho árduo e a uma vivência difícil sobre o mundo:
Disse também à mulher: “Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio.” E disse em seguida ao homem: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar” (Gn 4, 16-19)
Muitos são os efeitos do pecado original, objetos do estudo do homem há milênios. Afinal, entre os antigos judeus já se avaliava os estragos causados pela primeira e gravíssima desobediência humana.
Como dádiva da bondade divina, antes da desobediência o homem possuía o estado de graça, os dons da imortalidade, integridade, inocência e domínio sobre as outras espécies. Ao pecar, perdeu o estado de graça; tornou seu corpo corruptível e mortal; sua integridade interior deu lugar às paixões revoltas, perdeu sua inocência e viu a natureza revoltar-se contra ele.
Evidentemente a morte corporal é a que mais nos assusta. Causa-nos espanto imaginar que nos planos iniciais de Deus o homem viveria seus dias cheio de saúde, sem qualquer enfermidade, sem as marcas do envelhecimento e, no seu ápice, seria levado aos céus de corpo e alma; ascendendo assim do plano terreno à glória celeste, ao convívio com o Pai.
Porém, a pior consequência do pecado de Adão e Eva foi a perda do estado de graça. Ainda iremos dedicar aqui um artigo todo ele voltado a este dom; mas podemos resumir o assunto da seguinte forma, como nos ensina o Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã: “A graça santificante é um dom sobrenatural, inerente à nossa alma, que nos faz justos, filhos adotivos de Deus e herdeiros do Paraíso.”
Ou seja, quem está em estado de graça é habitado pela graça santificante, tem verdadeira vida sobrenatural e é filho de Deus por adoção, já que não temos a natureza divina, como Jesus Cristo, Filho unigênito do Pai. Portanto, a graça é indispensável ao cristão, sem ela é impossível salvar-se.
Como resultado funesto do pecado original, as portas dos Céus fecharam-se para Adão e seus descendentes. Punição felizmente revogada pela incalculável bondade de Deus Filho, que encarnou-Se pelo amor que tem para com os homens e, com seu sangue preciosíssimo, lavou eficazmente não só o primeiro, como todos os demais pecados.
* O autor é teólogo e redator católico
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)
Veja também: De que forma teria se dado o pecado original?
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Bela reflexão! Parabéns, Sr. Marcos! Que Deus continue te dando muita inspiração. Abraço!
Muito bom! Vale à pena abrir. Nossa, nem dá vontade d sair!
Parabéns Marcos!