Do livro “Confessai-vos Bem”, do Pe. Luiz Chiavarino – 4ª Edição – Edições Paulinas – 1943
D — Padre, o senhor disse também que a desonestidade é o pecado que traz consequências horríveis?
M — Infelizmente assim é! As desonestidades tiram as forças de qualquer obra generosa. Sansão, o mais forte dos homens, porque Deus o dotara de uma força extraordinária, deu-se a um amor impuro e tornou-se o joguete de Dalila, companheira dos seus pecados; por três vezes ela o traiu e o vendeu aos seus inimigos.
As desonestidades idiotizam a mente. Salomão, o mais sábio de todos os reis, perde-se junto das mulheres amalecitas e, abandonando o seu Deus, dá-se à idolatria.
As desonestidades viciam o coração de Henrique VIII, o mais cristão dos reis, tendo-se apaixonado por Ana Bolena, repudia a rainha sua esposa, abandona a Igreja Católica, faz da Inglaterra uma nação protestante, e morre excomungado pelo Papa.
As desonestidades fazem perder a fé. Se grande número de cristão não creem, não têm fé, é por causa das desonestidades. De fato quando é que a juventude começa a deixar a oração, a desertar a Igreja, a abandonar os Sacramentos? Justamente quando começa a frequentar as más companhias, quando se junta às más conversas, às impurezas. Não faz muito tempo, encontrei-me com um médico meu conhecido e o repreendi docemente porque não praticava a religião. “Faça com que eu me case, respondeu, e tornarei a ser católico praticante”. E o que me confessava era verdade: se não tinha fé era por causa das desonestidades.
As desonestidades são a causa dos crimes mais hediondos. As desonestidades estragam a saúde, diminuem as forças, encurtam a vida. A existência de tantos moços fracos, de tantas doenças, de tantas velhices precoces, a multiplicação de hospitais para os débeis, para os raquíticos, para os dementes, para os abandonados, aí estão para atestar quantos danos causam as desonestidades, mesmo à saúde.
Na América do Sul e na Guiana existe um animal chamado vampiro, que suga o sangue dos homens enquanto estão adormecidos, e quando está satisfeito, foge, deixando a veia aberta, o que frequentemente causa a morte. Pois bem, as desonestidades sugam o sangue, diminuem as forças, gastam a vida de quem se torna escravo delas. A desonestidade é parecida com a chama de uma vela; ou bem apagamos a chama, isto é desistimos do vício, ou bem acabamos a vela, isto é extinguimos a própria vida. Mas quantos há que não querem acreditar e perdem a juventude, perdem a saúde, a alegria e a paz para ir ao encontro de uma morte precoce e desonrosa! Pensam que vão colher e gozar o perfume das rosas, quando, na verdade não traem senão espinhos venenosos.
E, por falar em rosas, ouça um fato histórico que agora vem ao caso.
Heliogábalo, imperador romano, suspeitando de uma traição dos seus generais e cortesãos, pensou em preveni-los e puni-los de um modo terrível. Feito no maior segredo os preparativos, convidou-os todos para um suntuoso banquete. Ao fim da festa, quando mais expansiva é a alegria, quando as músicas tocam as notas mais alegres, eis que surge a grande surpresa!… Abre-se o teto da grande sala, o, do alto começa cair uma chuva, leve, de rosas lindas, frescas e perfumadas. Diante dessa novidade o prazer chega ao auge, transforma-se em delírio; todos se levantam gritando: “Viva Heliogábalo! Viva o imperador!” E deliciam-se com as rosas: pegam-nas e adornam-se com elas: as palmas e os vivas multiplicam-se.
Enquanto isso, o imperador sai sem ser visto. Abrem-se hermeticamente as portas e a chuva continua, aumenta, torna-se copiosa, tão forte que chega a cobrir as mesas e os convivas perdem os sentidos por causa do perfume asfixiante. Procuram uma saída, mas as portas estão fechadas e as janelas altíssimas protegidas por grades de ferro. Tarde demais descobrem o engano, e morrem todos sufocados pelo perfume e o peso daquelas rosas belíssimas.
D — Padre, é essa a triste história daqueles que se dão aos prazeres da impureza?
M — Precisamente! Infeliz da juventude que, enganada pelo perfume lascivo e sedutor de tais rosas, passa os anos mais belos gritando: amor, amor. O amor, ou seja, o vício, transformar-se-á bem cedo em veneno que castiga terrivelmente.
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