Quando falamos do papel purificador do purgatório, nos esquecemos muitas vezes que a vontade divina é de que nos purifiquemos de nossas faltas durante o percurso de nossa existência terrena.
Além da pena de sentido, responsável pelos tormentos físicos, no purgatório as almas sofrem, sobretudo, com a pena de dano, que é o fato de não poder possuir a Deus (temporariamente). E quanto mais purgam, mais querem ser purgadas, porque sentem a proximidade de alcançar a visão beatífica. Suas almas desejam a Deus de uma forma espetacular, não há na linguagem humana adjetivo capaz de descrever o que é a sede do Criador.
Além de tudo, é preciso ter presente que diferentemente do purgatório, quando expiamos nossos pecados na condição terrena, eles são coroados por méritos. Estes últimos irão influir diretamente em nosso gozo celeste, fazendo-nos saborear prazeres indizíveis quando estivermos no estado de glória. Mas lembre-se: só é possível obter algum mérito sobrenatural em estado de graça, do contrário, todas as nossas obras serão vãs, como afirma São Paulo em sua primeira epístola aos Coríntios (ICor. 13, 1-13).
A graça santificante nós a recebemos pelo batismo e a fazemos crescer frequentando os sacramentos, sobretudo o da Eucaristia. O pecado mortal nos faz perder o estado de graça, que pode ser recuperado com o arrependimento sincero, seguido da Confissão.
Os Santos souberam viver perfeitamente esta realidade, procuraram expiar suas faltas — ainda que veniais — sofrendo com amor e resignação. Aqueles que viveram uma vida pecaminosa, como Santo Agostinho antes da conversão, além de terem se arrependido profundamente, penitenciaram-se de seus pecados de forma exemplar. E quando já não tinham mais por que padecer, o fizeram em benefício de outros, como São Francisco Xavier e Santa Francisca Romana.
O mesmo São Paulo, acima citado, em sua segunda epístola aos Coríntios, nos confirma a larga vantagem do sofrimento terreno:
“O que é presentemente para nós uma tribulação momentânea e ligeira, prepara-nos um peso eterno de glória para além de toda a medida” (2 Cor 4, 17).
Verdade também atestada pela grande reformadora carmelita, Santa Teresa de Jesus, quando tratou a respeito das atribulações pelas quais Maria teve que passar:
“Vimos sempre que os mais chegados a Cristo, Nosso Senhor, foram os que passaram pelos maiores sofrimentos. Consideremos quanto sofreu sua gloriosa Mãe.”
Para terminar, citamos a também espanhola e carmelita Bem-aventurada Maravilhas de Jesus:
“O fruto do sofrimento é estar cada dia mais perto de Deus.”
Marcos Antonio Fiorito
Redator católico, teólogo e membro da
Confraria dos Devotos das Almas
Veja também: Sofrimento, dor, tribulação