Extração do livro:
Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo – Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja e Fundador da Congregação Redentorista
Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R.
Edição em PDF po Fl.Castro – maio de 2002
Baptismo habeo baptizari; et quomodo coarctor usque dum perficiatur!
“Devo ser batizado com um batismo; e com quanto ardor desejo que se cumpra!”
I.
Jesus podia salvar‑nos sem sofrer; mas não: quis abraçar uma vida de dores e de desprezos, sem nenhuma consolação terrestre, e uma morte amarga e desolada, unicamente para nos fazer compreender o amor que nos tinha e o desejo de ser amado por nós.
Passou sua vida inteira suspirando pela hora de sua morte que desejava oferecer a Deus para obter‑nos a salvação eterna; expressou esse desejo nas palavras Devo ser batizado com um batismo; e com quanto ardor desejo que se cumpra! Desejava ser batizado em seu próprio sangue, para lavar, não os seus pecados mas os nossos.
Ó amor infinito, infeliz quem vos não conhece e vos não ama!
II
Esse mesmo desejo fez‑lhe dizer depois na noite que precedeu o dia de sua morte: Desejei ardentemente comer esta páscoa
convosco. — Demonstrou com essas palavras que o único desejo de sua vida tinha sido ver chegar o tempo de sua paixão e morte para provar ao homem o amor imenso que sempre tivera por ele. Ó meu Jesus, desejais tanto o meu amor, que sofrestes a morte para obtê‑lo! que poderia eu recusar a um Deus que me deu seu sangue e sua vida para ser amado por mim?
III
Segundo observa S. Boaventura, é coisa espantosa ver um Deus sofrer por amor dos homens, mas o que é ainda mais espantoso, é que os homens não ardem em amor por esse Deus tão amante, depois de o verem sofrer tanto por eles, nascer criança e tremer de frio numa gruta, viver como um pobre operário numa oficina, morrer em fim como um criminoso numa cruz; não, não o amam… que digo? Chegam até a desprezar o seu amor para se apegarem aos miseráveis prazeres da terra. Mas como é possível que Deus tenha tanto amor aos homens, e que os homens aliás tão reconhecidos para com as criaturas, sejam tão ingratos para com Deus?
Ah! meu Jesus, eu também fui do número desses miseráveis ingratos? Como pusestes sofrer tanto por mim, prevendo as injúrias que vos iria fazer? Mas já que me tendes suportado até agora, e que quereis a minha salvação, dai‑me agora uma grande dor dos meus pecados, uma dor que iguale a minha ingratidão. Senhor, odeio e detesto os desgostos que vos causei; se no passado desprezei a vossa graça, agora a aprecio mais do que todos os reinos da terra. Amo‑vos de toda a minha alma, ó Deus digno de amor infinito, e desejo viver unicamente para amar‑vos. Dai‑me mais chamas, daime mais amor. Lembrai‑me sempre o amor que me tivestes, a fim que meu coração arda sem cessar de amor por vós, como o vosso arde de amor por mim. — Ó Coração de Maria, abrasai de santo amor o meu pobre coração.
Veja também: Reflexões de Santo Afonso sobre a Paixão de Cristo