Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 31 de agosto a 06 de setembro/2015 | Ano 9 – Nº 695.
Marcos Antonio Fiorito *
A perda do sentido cristão na vida humana vai distanciando cada vez mais o homem da Revelação Divina, de sorte que as verdades contidas no Evangelho já não se fazem mais presentes na consciência da maioria das pessoas.
Razão pela qual se torna muito difícil explicar aos nossos contemporâneos a questão da felicidade x sofrimento. Deus incutiu no homem uma vigorosa propensão para buscar a felicidade. Faz parte de nosso fim sermos plenamente felizes; porém no mais das vezes procuramos a felicidade fora de Deus, comumente nas criaturas.
Uma mera criatura humana nunca poderá fazer outra plenamente feliz, as duas são limitadas e igualmente chamadas à felicidade plena em Deus. Por isso não é possível sermos absolutamente felizes nesta vida terrena; estamos rodeados de seres tão ou mais limitados do que nós, tudo é precário e transitório.
São Paulo nos explica que todos os seres estão ordenados para a glória de Deus. Por isso a Igreja afirma que as criaturas foram destinadas à glória d’Ele. Como fim parcial, somos chamados a conhecer, amar e servir ao Criador. Porém, o que nos espera para a eternidade é incalculavelmente superior: nosso fim último é gozar da presença perpétua de Deus, vendo-O face a face, através da visão beatífica.
Mas haverá sofrimento no Céu? São Tomás de Aquino nos ensina que a visão beatífica é um “bem perfeito”, que “aquieta todo e qualquer desejo”. Portanto só no Céu seremos plenamente felizes, livres de qualquer incômodo.
Quanto ao sofrimento terreno, por incrível que possa parecer, ele é essencial para alcançarmos a felicidade, já que — como foi dito em outro artigo nosso –, dado o pecado original, sofrer faz parte intrínseca da prova estabelecida por Deus. Portanto, no que diz respeito ao nosso fim último, sem provação não há, e nunca haverá, aprovação.
Verdade exposta com simplicidade por Nosso Senhor Jesus Cristo em seu belíssimo Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.” (Mt 5, 4).
Também São Paulo, em sua segunda Carta aos Coríntios, afirma que “a nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável. Porque não miramos as coisas que se veem, mas sim as que não se veem. Pois as coisas que se veem são temporais e as que não se veem são eternas” (II Cor 4, 17).
Quando o Apóstolo das gentes diz que o sofrimento deste mundo é momentâneo e ligeiro, ele não está exagerando ou usando um recurso de oratória, visando impressionar seus expectadores. A realidade é que, chegando à eternidade, nossa vida mortal parecerá uma nesga insignificante de tempo…
Finalmente, ainda paira a pergunta: haverá felicidade satisfatória neste mundo? Felicidade perfeita, como muitas vezes nos retratam os filmes e contos românticos, evidentemente não; são fantasias nascidas da criatividade do homem. No entanto, a doutrina cristã explica que, sim, é possível uma felicidade relativa, desde que o homem pratique os Mandamentos. Fora isso, como nos ensina Salomão, debaixo do sol tudo é vaidade e aflição de espírito (Ecl 2, 17).
* O autor é teólogo e redator católico
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)
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