Fé, Esperança e Caridade

By Coyau [GFDL or CC BY-SA 3.0], via Wikimedia Commons

Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 09 a 15 de maio/2016 | Ano 10 – Nº 727.

Marcos Antonio Fiorito *

Vivemos em uma época em que pouco se fala a respeito das virtudes teologais: fé, esperança e caridade, ensinamento que nos foi transmitido por São Paulo em sua primeira carta aos Coríntios. A fé nos permite acreditar em Deus e nos mistérios sobrenaturais. É possível, como já vimos em outro artigo, provar a existência de Deus pela razão; porém, muitos mistérios, embora não sejam contrários à razão, estão acima dela. Somente à luz da fé podemos “enxergar” e crer em tais verdades. Um exemplo é o mistério da Santíssima Trindade: como conceber três pessoas divinas num só Deus? Tal compreensão só alcançaremos quando estivermos diante de Deus face-a-face.

Outro mistério acima de nossa compreensão terrena é o da Encarnação. Como é possível que um Ser Divino, Imutável, Eterno, Infinito, etc., se una a uma natureza humana, de maneira que coexista em uma só pessoa duas substâncias tão antagônicas?!

Já a virtude da esperança nos mantém na expectativa do triunfo do bem e de nossa salvação eterna, numa palavra, na posse perpétua de Deus. Por isso o Livro da Sabedoria, quando se refere ao sofrimento dos justos, diz: “Ainda que aos olhos dos homens tenham sido castigados, sua esperança estava cheia de imortalidade” (Sb 3, 4).

Por fim, temos a maior de todas a virtudes: a caridade. Na afirmação de São Paulo, a mais excelente das virtudes, pois sem ela todas as nossas ações tornam-se estéreis. Ela se traduz em amor de Deus, ou seja, não é simplesmente o ato de dar esmola, fazer uma boa ação, ajudar um necessitado… É muito mais do que isso, é o próprio amor que se tem ao Criador e ao próximo. Quando Cristo nos ensinou o novo mandamento: “amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado”, Ele atrelou o amor ao próximo ao amor de Deus. Ou seja, devo amar ao próximo por amor ao Criador, ver no próximo um reflexo de Deus.

A caridade é o amor mais puro, excelso e desinteressado que possa haver. Por tal razão São Paulo nos adverte que sem ela nada faz sentido:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!  A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá” (I Cor. 13, 1-10).

As três virtudes teologais nos são infusas através do batismo e permanecem em nós enquanto estivermos em estado de graça. Lembrando que o homem perde o estado de graça com o pecado mortal e o recupera através do arrependimento sincero e da confissão. São chamadas virtudes teologais por estarem diretamente ligadas a Deus. “Teo” é um elemento de composição de origem grega e significa “Deus”.

Sintetizando: pela fé cremos em Deus; pela esperança aguardamos o dia em que viveremos plenamente na Sua luz; já pela caridade O possuímos transitoriamente, até o céu, quando ela se transformará em glória e, por fim, gozaremos da presença perpétua d’Ele.

* O autor é teólogo e redator católico

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)

 

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