Marcos Antonio Fiorito*
Perde-se no tempo a data exata em que o terço, como nós o conhecemos hoje, foi elaborado. A origem do ancestral do terço parece remontar aos monges do deserto, que usariam pedrinhas para contar as ave-Marias, salmos e outras orações que lhe eram próprias e costumeiras.
São Luís Maria Grignion de Montfort, em seu livro O segredo admirável do Santíssimo Rosário, afirma que São Domingos de Gusmão, em 1214, recebeu de Nossa Senhora a revelação de que a recitação do Rosário era o meio eficaz para reformar o mundo: “Sabei que a peça principal da bateria foi a saudação angélica, que é o fundamento do Novo Testamento; e, portanto, se queres ganhar para Deus esses corações endurecidos, reza o meu saltério”. Nessa mesma obra, São Luís revela que “O santo Rosário que ele rezava todos os dias era sua preparação para pregar e sua ação de graças depois de ter pregado”.
São Luís Grignion de Montfort talvez seja o maior expoente da devoção à Virgem Santíssima, tendo escrito livros maravilhosos a respeito da Mãe Deus e da necessidade de sua intercessão para se obter uma união mais rápida e intrínseca com seu Divino Filho. Sua linguagem costuma ser categórica, enfática, entusiasta do amor a Nossa Senhora. De maneira que ele não mede palavras quando se trata de encher a alma do leitor de confiança na proteção de Maria. Por isso, no livro acima citado, ele diz:
“Ainda quando vos encontreis à beira do abismo ou já tenhais um pé no inferno; ainda que fôsseis um herege endurecido e obstinado como um demônio, cedo ou tarde, vos convertereis e salvareis, contanto que (repito-o, e notai as palavras e os termos de meu conselho) rezeis devotamente todos os dias o Santo Rosário até a morte, para conhecer a verdade e obter a contrição e o perdão de vossos pecados”.
Rezar o Rosário ou o terço todos os dias traz inúmeros benefícios para o fiel. O que não é nenhuma novidade para os católicos que se acercam dessa prática. Porém uma questão essencial e que não é de conhecimento de todos é a forma correta de se rezar o terço. A maioria dos católicos deslizam as contas do terço repetindo as orações de maneira um tanto mecânica. Enquanto os dedos passam pelas contas e os lábios pronunciam as ave-Marias, o pensamento pode estar bem longe…
Existe algum mal nisso?
A rigor, não. Mas a eficácia de nossas orações está muito atrelada ao fervor com o qual rezamos. Quanto mais perfeita for nossa oração, mais agradável ela se torna a Deus.
E qual seria a forma correta?
A forma correta está em meditar no mistério que foi anunciado. Por isso usamos a expressão “contemplamos” quando enunciamos um mistério. Por exemplo: “No terceiro mistério gozoso contemplamos o nascimento de Cristo na gruta de Belém”. Significa que devemos meditar nas circunstâncias do nascimento de Cristo, no momento santo e iluminado da noite do primeiro natal de Jesus, na alegria de Maria e São José, nos anjos que estavam presentes ali, nos animais dentro da gruta, nos pastores, na visita dos reis magos, etc.
Então, a cada mistério, devemos meditar, contemplar aquela passagem da vida de Cristo ou de Sua Mãe Santíssima. Assim estaremos rezando de maneira a produzir belos frutos e belas flores no jardim de Nossa Senhora.
Que tal experimentar hoje mesmo rezar o Santo Rosário dessa forma mais perfeita?
* O autor é teólogo e historiador.
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)