Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 7 a 13 de julho/2014 | Ano 8 – Nº 638.
Marcos Antonio Fiorito *
Reza o Credo católico que Cristo “está sentado à direita de Deus Pai, todo poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e mortos”. Há quem confunda o juízo particular com o dia do juízo, também chamado de juízo final. De fato, tratam-se de dois juízos distintos. O primeiro juízo dá-se no momento seguinte à morte e irá decidir o nosso destino eterno. O segundo juízo virá após os acontecimentos apocalípticos do final dos tempos, depois da ressurreição dos mortos e com a vinda gloriosa de Cristo.
A ciência teológica que estuda as últimas coisas que hão de nos acontecer chama-se “escatologia” (escato+logo+ia), palavra de origem grega que diz respeito ao último destino do homem e do mundo. Outra formulação muito usada nos antigos manuais de doutrina católica — e de origem latina – é “Novíssimos”: Morte, juízo, céu ou inferno.
A Igreja ensina que a meditação dos Novíssimos é deveras salutar para a vida espiritual do cristão, pois o faz refletir no seu destino eterno, evitando assim as vias do pecado: “Em tudo o que fizeres, lembra-te de teu fim, e jamais pecarás” (Eclo 7, 40).
Ainda sobre os dois juízos em questão, falta-nos explicar a diferença entre ambos. Um olhar superficial nos sugere que são idênticos, pois objetivam uma revisão da jornada vivida por determinada criatura humana, o julgamento e a sentença que definirá o seu destino eterno.
Porém, o juízo particular é tão somente entre a alma do indivíduo e Deus; já no juízo final, todos terão ressuscitado, e tudo será revelado diante de todos, para maior glorificação do Criador. Entenderemos por que pessoas justas sofreram tanto e, ao contrário, por que pessoas más e desonestas viveram aparentemente muito bem, como se escapassem da justiça e punição divinas.
Como diz o Catecismo da Igreja Católica, “O Juízo Final revelará que a justiça de Deus triunfa de todas as injustiças cometidas por suas criaturas e que seu amor é mais forte do que a morte” (§1040).
E o livro da vida, escrito sobrenaturalmente, revelará o caminho percorrido por todos e cada um dos nascidos:
“Vi os mortos, grandes e pequenos, de pé, diante do trono. Abriram-se livros, e ainda outro livro, que é o livro da vida. E os mortos foram julgados conforme o que estava escrito nesse livro, segundo as suas obras” (Ap 20, 12).
Há teólogos e doutores da Igreja, como Santo Afonso de Ligório, que defendem que dos maus tudo será revelado, mas dos bons apenas o que fizeram de positivo.
Teorias à parte, causam arrepio as palavras de Nosso Senhor no Evangelho, quando se dirige à multidão de seres humanos reunidos à sua direita e esquerda, para proferir-lhes a sentença divina:
“Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
“Então o Rei dirá aos que estão à direita: – Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo (…).
“Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: – Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos” (Mt 25, 31-41).
Por último, consideremos a expressão “vivos e mortos” do Credo. A primeira fala dos que morreram em estado de graça e foram definitivamente salvos; a segunda refere-se aos que morreram em estado de pecado mortal e se condenaram para sempre. Ou seja, estão eternamente privados da vida sobrenatural: “A segunda morte é esta: o tanque de fogo” (Ap 20, 14).
* O autor é teólogo e redator católico
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)
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Texto maravilhoso, parabéns! Devemos estar preparados para este dia.