— Onde está o purgatório?
Resposta: — No centro da terra, próximo do inferno (como o vistes depois da Comunhão). As almas estão aí num lugar restrito, comparado à multidão que aí se encontra, pois são milhares e milhares de almas. Entretanto, que lugar ocupa uma alma?
Cada dia aí chegam milhares e milhares, e, a maior parte dos trinta aos quarenta anos. Eu vos digo segundo os cálculos da terra, porque aqui é outra coisa muito diferente.
Ah! se soubessem e pensassem o que é o purgatório, e se soubessem que amargura pensar que a gente aqui está por própria culpa! Estou aqui há oito anos, e parece-me que há dez mil anos!… Ó, meu Deus! Dizei isto ao vosso padre espiritual. Que ele aprenda de mim o que é este lugar de sofrimento, a fim de que ele o faça conhecer para o futuro. Ele há de experimentar por ele mesmo quanto é proveitosa a devoção às almas do purgatório!
Deus concede muitas vezes mais graças por intermédio das almas do purgatório do que pela intercessão dos próprios santos. Quando o Padre X quiser obter uma coisa com mais segurança, dirija-se de preferência às almas que mais amaram a Santíssima Virgem neste mundo, e que, por conseguinte, esta boa Mãe deseja libertar mais depressa, e depois ele vos dirá se não foi muito bem tudo!…
Há também algumas almas que não ficam no purgatório propriamente dito. Assim, por exemplo, eu vos acompanho por toda parte, e quando repousais, eu sofro mais, pois fico no purgatório.
Outras almas fazem às vezes o seu purgatório nos lugares onde pecaram, ao pé dos santos altares, onde se encontra o Santíssimo Sacramento, mas não importa o lugar onde se encontram, porque levam com elas o sofrimento, embora sejam estes menos intensos do que no purgatório mesmo.
O Padre… tem razão quando vos diz que não deveis procurar senão a vontade de Deus em tudo o que fazeis. Será para vós felicidade ver a vontade de Deus em tudo o que acontece. Sofrimentos ou alegrias, tudo vem igualmente de Jesus. Sede muito boa, duas vezes boa, para dar prazer a Jesus que é tão bom para convosco! Tende sempre os olhos da alma abertos para Ele, a fim de prevenir o menor dos seus desejos. Ide mesmo adiante, a fim de lhe dar prazer.
A inglesa que se afogou junto do Monte São Miguel, foi diretamente para o céu. Teve ela a contrição necessária no momento da morte, e ao mesmo tempo o Batismo de desejo. Tudo aconteceu por intercessão de São Miguel. Feliz naufrágio!
Pio IX foi direito para o céu. Seu purgatório estava já feito na terra.
— Como sabeis que M. P. foi direito para o céu, pois não a vistes passar pelo purgatório?
Resposta: — Deus me revelou e Ele também por pura bondade permite que eu saiba o que vós me pedis, quando eu não o vi ou não percebi por mim mesma.
A justiça de Deus nos retém no purgatório é verdade, e nós o merecemos, mas crede que a sua misericórdia e seu coração paterno não nos deixam lá sem nenhuma consolação. Desejamos muito nossa união com Deus, mas Ele não a deseja menos do que nós.
Na terra Ele se comunica de uma maneira íntima a certas almas e se compraz em lhes desvendar seus segredos. As almas que lhe são agradáveis, são as que no seu modo de proceder não vivem e não respiram senão por Jesus, e só procuram agradá-lo.
No purgatório há almas bem culpadas, mas arrependidas, e não obstante as faltas que têm ainda a expiar, estão confirmadas em graça e não podem mais pecar. São perfeitas. Pois bem, à medida, e na proporção que uma alma se purifica no lugar da expiação, compreende melhor a Deus, ou Deus e ela se compreendem melhor, sem entretanto se verem, porque então não haveria mais purgatório!
Se nós não conhecêssemos a Deus mais do que aí na terra, nossas penas, nosso martírio, não seriam tão poderosos, nosso martírio tão cruel! O que faz nosso principal tormento é a ausência daquele único objeto de nossos longos anos de desejos.
— E quando uma alma é destinada a ter uma mais bela coroa no céu, não tem também no purgatório mais graças do que as outras?
Resposta: — Sim, quanto mais uma alma está destinada a ocupar um lugar mais elevado no céu, também os seus conhecimentos são mais extensos e sua união mais íntima com Ele no lugar da expiação. Tudo aqui é proporcionado ao mérito.
— Os três amigos de V. P. estão no céu há muito tempo? Que é feito das orações que se fizeram por eles?
Resposta: — As pessoas que estão no céu, e pelas quais rezam na terra, podem dispor destas orações pelas almas que desejem aplicá-las. É uma lembrança bem doce para as almas do outro mundo, ver que os parentes e os amigos não as esqueceram na terra, embora não tenham mais necessidade de orações. E em retribuição não são elas ingratas!…
Os juízos de Deus são bem diferentes dos da terra. Ele olha para o temperamento, o caráter, o que se fez por leviandade ou por pura malícia. Conhece o fundo dos corações, não lhe é difícil ver o que neles se passa. Jesus é muito bom, sim, mas é muito justo também!…
Veja também: Manuscrito do Purgatório – Continuação Post 17