Manuscrito do Purgatório – Continuação Post 21

photo credit: Allie_Caulfield via photopin cc
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(Janeiro) — Noite de Natal — Milhares de almas deixam o lugar da expiação para o céu. Muitas ficaram, e eu sou do número das que ficaram. Dizeis que a perfeição de uma alma é bem longa. É verdade. Estais admirada de que não obstante tantas orações eu ainda fique tanto tempo sem gozar da presença de Deus. Ai! a perfeição de uma alma no purgatório não vai mais depressa do que na terra.

Há algumas almas que só têm alguns pecados veniais a expiar. É um número pequeno o delas. Estas não ficam muito tempo no purgatório.

Algumas orações bem feitas, alguns sacrifícios, as livram em pouco tempo. Porém, quando são almas como eu, e é o caso de quase todas, que passaram a vida quase nula e que se ocupam pouco ou quase nada da sua salvação, é preciso neste caso recomeçar a vida no lugar da expiação, aperfeiçoar a alma de novo, amar, desejar aquele que na terra não amamos bastante. Eis porque a libertação destas almas muitas vezes se prolonga por muito tempo.

Deus ainda me concedeu uma grande graça: a de vir pedir orações. Eu não a merecia e sem isto eu ficaria aqui anos e anos, como a maior parte.

– As religiosas e as outras da mesma Congregação, têm relações entre si?

Resposta: – No purgatório como no céu as religiosas da mesma família não estão sempre juntas. As almas não merecem todas a mesma penitência nem a mesma recompensa. Entretanto, elas se reconhecem no purgatório. Podem também com permissão de Deus se comunicarem entre elas.

– Pode-se receber uma oração, um pensamento de um amigo defunto e lhe dar a conhecer a saudade que se tem dele?

Resposta: – No purgatório como no céu, pode-se fazer chegar até aqui a lembrança e as saudades da terra, mas como vos disse, não são úteis às almas do purgatório, porque elas sabem e conhecem as pessoas que se interessam por elas na terra. Deus permite algumas vezes que delas se possa receber algum conselho, alguma advertência. Assim, o que eu vos disse diversas vezes a respeito de São Miguel, foi da parte de Deus, e também o que vos disse do vosso Pai espiritual. Todas as comissões que me destes, algumas vezes, para o outro mundo, eu as fiz sempre, mas tudo isto está subordinado à vontade de Deus.

– As faltas são conhecidas no purgatório por todos como serão no dia do juízo?

Resposta: – Nós não conhecemos no purgatório as faltas dos outros, exceto quando Deus o permite para certas almas, mas segundo seus desígnios, e isto para muito poucas almas…

– Tendes de Deus um conhecimento mais perfeito do que o nosso?

Resposta: — Ó, que pergunta! Sim, nós o conhecemos muito melhor, e o amamos muito melhor, e também muito mais! Ai! E é isto o que causa nosso maior tormento! Na terra não se sabe o que é o Bom Deus! Fazem dele uma ideia muito estreita; mas nós, ao deixarmos nosso invólucro de carne, de barro, então, nada entrava mais a liberdade de nossa alma. É então, e só então, que conhecemos a Deus, sua bondade e suas misericórdias e seu amor! Depois desta visão tão clara, esta necessidade tão grande de se unir a Deus, a alma tende a se voltar para Ele, e é repelida porque não é bastante pura. Eis o sofrimento!… É o mais duro e mais amargo dos sofrimentos. Ó se nos fosse permitido voltar à terra depois que conhecemos assim ao bom Deus, que vida não haveríamos de levar! Mas… inúteis arrependimentos!… E no entanto, na terra não se pensa nisto e se vive na cegueira!. . . Não se dá importância para a eternidade! A terra é uma passagem onde só se recebe um corpo que por sua vez há de voltar à terra. E só pensam e desejam a terra e não pensam no céu! E Jesus e o amor de Jesus sempre esquecidos!

— No purgatório as almas se consolam mutuamente no amor de Deus, ou cada uma delas é completamente isolada em cada sofrimento?

Resposta: — No purgatório nossa única consolação, nossa única esperança é só Deus. Na terra Deus permite que a gente seja consolada às vezes nas penas do corpo e do espírito por um coração amigo. Se neste coração não encontra ainda o amor de Jesus, as consolações são vãs e perdidas, mas aqui, as almas estão abismadas em Deus na vontade divina, e só Deus pode aliviar a dor que padecem… Todas as almas são torturadas, cada uma segundo a culpa que têm, mas todas têm uma dor comum que ultrapassa as demais: a ausência de Jesus que é nosso alimento, nossa vida, nosso tudo. E estamos separadas dele por nossa culpa!

Depois de uma ação, não é preciso voltar atrás e andar perdendo tempo em examinar se a fez bem ou mal. É certo que é preciso examinar as ações de cada dia a fim de as fazer sempre melhor, mas que isto não seja à custa da tranquilidade da alma. Deus ama muito as almas simples. É preciso ir a Ele com grande simplicidade, boa vontade sempre pronta a se sacrificar por Ele, e lhe dar prazer. Deveis proceder para com Jesus como uma criancinha com sua mãe, confiando na bondade dele, entregando-lhe nas mãos divinas todos os vossos interesses espirituais e corporais, e depois, procurá-lo sempre em tudo, agradar em tudo sem vos preocupardes com outra coisa.

Deus não olha tanto as grandes ações, os atos heroicos, como uma ação simples, um pequeno sacrifício, contanto que estas ações sejam feitas por amor. Quantas vezes um pequeno sacrifício conhecido só de Deus e da alma que o praticou, não se torna mais meritório que um outro muito maior que foi aplaudido! É mister sermos bem interiores para não tomarmos para nós os elogios que se nos fazem.

Deus procura almas vazias de si mesmas, para enchê-las de seu divino amor. Encontra muito poucas. O amor de si não deixa lugar para Jesus. Não deixeis passar nenhuma ocasião de vos mortificar, principalmente no interior. Jesus tem muitas graças para vos conceder na quaresma, preparai-vos por grande fervor e um grande amor. Amai a Jesus, principalmente. Ele é tão pouco amado pelo mundo e é tão ultrajado!

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Veja também: Manuscrito do Purgatório – Continuação Post 20

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