(Maio) — Trabalhai sem descanso e com todas as vossas forças para a vossa perfeição. Tendes bastante firmeza de caráter para vencer todas as dificuldades que se opõe à vossa união com Jesus, até que chegueis lá onde Ele quer.
Vossa vida será um martírio perpétuo. Custa muito renunciar–se a cada instante. É um martírio contínuo, mas neste martírio se experimentam as mais doces alegrias. A alma sofre, mas aquele por quem ela sofre lhe concede a cada sacrifício, a cada renúncia, uma graça que a anima e encoraja a caminhar sempre avante, e a se entregar sempre mais. Nada agrada tanto a Nosso Senhor como ver uma alma que se esforça, não obstante todos os obstáculos que se encontram no caminho, para poder se entregar cada vez mais para a glória e pelo amor de Deus.
Estais aflita por ver que Deus é insultado em Paris, mas estas pessoas não sabem o que fazem, e Jesus se sente mais insultado e ofendido com os pecados que cometem as almas que lhe são consagradas e não são o que deveriam ser, do que com as injúrias daqueles que não são seus amigos.
Jesus quisera o amásseis com um amor de criança, isto é, com a ternura de uma criança que só quer agradar aos seus paizinhos queridos, e, no entanto, sois tão fria para com Jesus! Não é isto que Ele espera de vós, a quem tanto ama!
Não dirigis vossa pureza de intenção como Deus o quer. Assim, ao invés de oferecer de um modo vago as intenções, podeis fazer com mais fruto tendo as intenções bem determinadas. Por exemplo: quando tomais a refeição dizei: “Meu Jesus, alimentai a minha alma com a vossa Santa graça, assim como eu alimento agora meu corpo”.
Quando lavais vosso rosto ou vossas mãos: “Meu Jesus purificai a minha alma como eu o faço com meu corpo”. E assim em cada uma das ações. Habituai–vos a falar sempre a Jesus com o coração. Que Ele seja tudo no que fazeis ou dizeis.
É preciso nunca se desculpar. Que vos adianta que vos julguem culpada, quando não o sois? E se reconheceis uma falta, humilhai-vos e… silêncio! Não vos desculpeis nem em pensamento.
Só as ações feitas com grande amor, sob o olhar de Deus, para cumprir a sua santa vontade, só elas terão a recompensa imediata, ao passar pelo purgatório. Que cegueira há no mundo a este respeito!
(Novembro) — Eis que para todas acabou–se o retiro, mas, para vós ele continua. Continuai o vosso retiro sempre, durante todo o ano em vosso coração. Ainda mesmo em meio das maiores ocupações, tende sempre um lugarzinho reservado onde vos recolhereis no coração, e com o coração de Jesus, e lá não o perdereis nunca de vista.
O retiro foi muito agradável a Deus, e muito proveitoso às almas. Jesus vê com prazer as almas religiosas que se voltam para Ele e o procuram como único fim. Para isto é que Ele as chamou para o seu serviço, mas como é fácil na terra esquecer-se a gente mesmo do que é mais sagra-do! Um bom retiro ajuda as almas a retomarem o fervor primitivo. É o que se fez no retiro que acabais de ouvir. Este retiro consolou muito o Coração de Jesus.
Que são estes poucos instantes que passamos na terra comparados com a eternidade? Na morte vereis que nunca se fez demais. Sede generosa e não vos escuseis. Vede o fim para o qual vos chama Jesus: a santidade, o puro amor, e depois, caminhai sempre sem olhar para trás.
A cruz, as grandes cruzes, as que trituram o coração, são a herança dos amigos de Deus. Vós queixastes nestes dias a Jesus, porque Ele vos enviou muito sofrimento durante este ano? É verdade, mas por que achais tão pesadas as cruzes? É que não o amais ainda bastante. As cruzes ainda não se acabaram. As que tivestes até aqui são apenas o prelúdio do que vos espera. Não vos disse que teríeis sofrimentos do corpo e do espírito, e às vezes os dois juntos? Não há santidade sem sofrimento. Entretanto, quando deixardes que a graça possa agir livremente e que Jesus possua vossa vontade, e seja o Mestre absoluto de tudo em vós, então as cruzes por mais pesadas que o sejam, não hão de pesar mais. O amor absorverá tudo. Até lá, porém, sofrereis muito, porque não é num instante que a al-ma chega assim a se desapegar de todas as coisas para não agir senão por amor. Jesus vê com muito prazer os vossos esforços. Ó, se Jesus fosse mais conhecido na terra! Mas é tão esquecido! Pelo menos vós, amai-o, crescei sempre neste amor para agradá-lo. Trabalhai sem descanso para chegardes até lá onde Ele vos quer ver.
(16 de setembro) — Como se compreende muito pouco na terra o desapego que Jesus quer de uma alma que deve ser toda dele! Algumas se julgam santas porque experimentam um amor mais sensível do que ordinariamente; mas, todas estas sensibilidades naturais nada são. É mister que a alma se eleve, se desapegue pouco a pouco, de tudo que a cerca, e sobretudo de si mesma, de seu amor próprio, das suas paixões, a fim de chegar à união divina e só Jesus sabe quanto custa à natureza chegar até lá! O coração há de ser triturado a fim de sair dele todo o amor humano, e é difícil! Poucas almas compreendem estas coisas! Vós que compreendeis um pouco de tudo isto, por misericórdia de Jesus, vós a quem Ele tanto ama, entrai corajosamente neste caminho da abnegação e da morte de vós mesma. Voai por cima da terra, e de tudo que vos cerca, para vos abismardes na santíssima vontade de Deus. Não perder de vista esta santa vontade de Deus nem um minuto! Não penseis que com isto não podereis cumprir as vossas obrigações, absorta neste pensamento. Haveis de ver que acontece justamente o contrário. A alma quanto mais unida a Jesus, tanto mais será exata no cumprimento dos seus deveres. Aquele a quem ama fará tudo por ela. Será um com ela. E então, não estará bem dirigida e ajudada no que faz? Quanto bem pode fazer uma alma interior! Aliás, tudo o que se fizer fora disto, é inútil. A alma unida a Jesus tem direito sobre o seu coração, é senhora deste coração e Ele nada lhe recusa.
Refleti bem nisto que vos estou dizendo! Uma só das vossas ações oferecidas para meu alívio, com pureza de intenção, quando estais bem unida a Jesus, me alivia mais do que diversas orações vocais. Quanto mais depressa vos aperfeiçoardes, tanto mais depressa chegareis a me livrar do purgatório.
É verdade que a Madre Superiora sofreu muito nestes últimos dias, mas um dia de grande sofrimento como ela o experimenta algumas vezes, é mais proveitoso para a alma dela e para a comunidade, do que dez dias ou mais de boa saúde, em que pode trabalhar e fazer tudo o que é de seu cargo.
Veja também: Manuscrito do Purgatório – Continuação Post 22