Verdadeiras e falsas aparições
Há verdadeiras e falsas aparições. Estas muito mais frequentes do que aquelas. Como distingui-las? Há sinais pelos quais facilmente podemos nos livrar de enganos e afastarmos perigo da ilusão diabólica. Devemos imitar sempre a reserva prudente da santa Igreja nesta matéria.
A Igreja não admite revelação alguma que não for devidamente comprovada, e ainda assim, não obriga os fiéis a nela acreditar. Ninguém é obrigado a acreditar numa revelação particular por mais provada que tenha sido. Não obstante, depois de bem provadas, seria temerário abusar com urna sistemática atitude de ceticismo, diante do que os santos e homens doutos e equilibrados aceitaram e provaram não haver ilusões.
Diz Bento XIV que podem os fiéis acreditar e podem ser publicadas as revelações particulares para edificação dos fiéis, contanto que sejam aprovadas pela autoridade eclesiástica. O Papa Urbano VIII manda que ao serem publicadas, declare o autor em nada querer se adiantar aos juízos da Igreja, e que tais fatos merecem apenas uma fé humana e não importam em definição da Santa Madre Igreja.
Eis as cautelas com que a Igreja cerca as aparições. Há também regras seguras para discernimento das revelações segundo os bons autores da espiritualidade e os melhores teólogos. Umas se referem às pessoas que recebem as revelações, e outras matérias das revelações os efeitos das mesmas. Quanto às pessoas é mister indagar dos dotes naturais. É um temperamento equilibrado? Não se trata de uma psiconeurose ou de histerismo? Nestes casos, quantas alucinações perigosas e difíceis de serem discernidas logo de começo! Quanto ao estado mental, é pessoa discreta, de juízo reto, ou de imaginação exaltada e de sensibilidade excessiva? É instruída ou ignorante? Onde aprendeu o que sabe? Não estaria com o espírito debilitado por jejuns ou por alguma enfermidade? Quanto ao moral, é mister saber se se trata de pessoa sincera ou acostumada a exagerar e mentir. É um temperamento calmo, ou apaixonado e sem equilíbrio? A resposta a esta pergunta não dará, certamente, uma solução para a prova da existência ou não de uma revelação verdadeira, mas ajudará muito a julgar do valor o testemunho dos videntes.
Quanto à matéria das aparições é mister muita atenção para julgá-las. Segundo a doutrina unânime dos Doutores, nenhuma revelação pode contradizer o dogma e o que foi ensinado pelo Evangelho. Diz São Paulo: ainda que um anjo do céu vos pregue um evangelho diferente do qual anunciamos, seja anátema (3). Deus não se contradiz. Nas falsas aparições há mentiras, erros teológicos graves, contradições e muitas vezes coisas contrárias às leis da moral e da decência.
Muitas pessoas de imaginação muito viva tomam seus próprios ensinamentos por visões e locuções interiores. Diz Santa Teresa: “Acontece com certas pessoas de tão fraca imaginação que se embebem de tal maneira na imaginação que tudo o que pensam claramente lhes parece que estão vendo” (4).
(3) Gálatas I, 8.
(4) Castillo – Morados sextas – Cap. IX. 9.
Veja também: Manuscrito do Purgatório – Continuação Post 2