Aparições das almas do purgatório
Depois de termos mostrado a verdadeira doutrina da Igreja sobre as revelações ou aparições, tratemos das aparições das santas almas. Podem elas aparecer aos homens? Sim, raramente e por permissão de Deus. É uma graça para quem recebeu a aparição e uma graça para a pobre alma, sobretudo quando Deus permite que ela obtenha socorro para se livrar das chamas expiadoras. Deus o permite para excitar a nossa fé na imortalidade da alma e para que compreendamos melhor a sorte das pobres almas e procuremos sufragá-las com mais zelo e caridade.
Como distinguir verdadeiras das falsas aparições de almas do purgatório?
Já Demos as principais regras deste discernimento segundo a doutrina da Igreja e a teologia. Acrescentemos mais algumas. No século XVII, o sábio Cardeal Bona criticou severamente a facilidade e leviandade com que acreditavam muitos em revelações sobrenaturais e deu algumas regras que podem nos esclarecer muito na matéria. Vamos comenta-las:
1 – “Toda aparição desejada ou provocada é suspeita”. Ninguém deve desejar ver nem conversar com os mortos, indagar a sorte dos defuntos, mesmo que o faça por motivo de caridade para rezar por eles. Não se deve desejar aparição alguma de alma do purgatório. Seria temeridade e presunção.
2 – Se a aparição revela coisas ocultas que seria melhor silenciar sobre elas, faltas alheias, ensina coisas contrarias ao dogma e ao Evangelho, tem horror à água benta, ao crucifixo, etc., está provado que se trata do demônio.
3 – As almas do purgatório aparecem geralmente para solicitar orações, recomendar restituições, etc. E feito isto, não voltam mais, a não ser para agradecerem. Se uma aparição se torna importuna dia e noite, ameaça, perturba a paz de um homem ou de uma família ou comunidade, é sinal certo do demônio.
4 – Ninguém deve aceitar serviços prestados pelas almas do purgatório que se vem colocar a nossa disposição, morar conosco, etc. É pura ilusão isto ou coisa diabólica.
5 – Todos os bons teólogos místicos ensinam que as aparições verdadeiras logo de principio perturbam e assustam mas depois lançam a alma numa doce paz, aumentam a humildade, excitam o amor de Deus e do próximo e produzem um grande desejo de perfeição. Quando alguém começa a se gabar das aparições, mostra-se digno delas, perturbar-se em vão e encher-se de presunção, irritar quando os superiores não fazer caso das suas visões e desobedecer, eis um sinal bem certo de engano.
6 – É mister que as aparições sejam expostas singelamente a um bom diretor, sem exageros nem reticências, nem diminuição da verdade. E depois ficar pelo que ele decidir e obedecê-lo cegamente!”
Com estas regras seguras dos bons teólogos e autores místicos, não haverá perigo de ilusão. Deus Nosso Senhor na sua misericórdia tem permitido muitas revelações das almas do purgatório. Parece mesmo que são mais numerosas do que qualquer outra. Quanta luz sobre o purgatório não nos deram, por exemplo, as revelações de uma Santa Catarina de Genova! Nesta matéria sejamos muito prudentes e criteriosos e não nos afastemos do pensamento da santa Igreja e das normas que acima vão expostas.
Veja também: Manuscrito do Purgatório – Continuação Post 3