Nasci numa família de judeus sefaraditas. Sou natural de Seridó (RN). Minha avó materna mandava guardar o sábado. Comecei a tocar saxofone com sete anos de idade.
Como é de se esperar, não recebi uma educação católica. Aos dez anos, embriaguei-me numa festa aonde fora tocar. Vomitei em todas as pessoas que vinham no carro comigo… Na escola primária, era suspenso por causa de brigas com colegas de sala.
Tive que ter um acompanhamento especial nas aulas de música, já que eu era um “menino prodígio”. Tudo o que eu ganhava tocando nos circos, carnavais, festas, comícios e outros eventos, dava para a minha mãe, pois sou “arrimo de família”.
Meu papai era sapateiro, funileiro e músico; uma família muito pobre. Na adolescência, tocando em bandas de baile, rock, pop e etc., conheci as drogas, a bebida, a prostituição. Nessa época tocava muito nos cabarés e casas de prostitutas para ganhar dinheiro. Na época de carnaval, tocava saxofone o dia inteiro nos blocos de rua; à noite, nas orquestras dos clubes. Tudo era para ajudar na criação dos meus irmãos, já que sou o mais velho de 7 filhos.
Quanto sofrimento, meu Deus! À época, sentia-me profundamente angustiado e infeliz. Talvez por isso, eu namorava muito. Fui morar em Caicó, Rio Grande do Norte, na Casa do Estudante. Eu queria aprender e crescer cada vez mais na música. Chegava a época de férias e eu ficava literalmente passando fome com mais uns 3 ou 4 colegas que trabalhavam como músicos profissionais.
Uma senhora católica que morava em frente à Casa do Estudante, com pena de mim, muitas vezes matava a minha fome dando-me um prato de comida.
Foi aí que conheci a Caridade dos católicos (lembro-o entre lágrimas…). Também pedia alimento no Colégio Estadual, onde as professoras faziam curso de férias, mas tinha pouca comida: a direção então deixava que pegássemos aquilo que sobrava (o sobejo) dos pratos das professoras: o resto, mesmo. Pedaços de carne das quais faltavam nacos, arrancados com dentes, que tinham sido deixados nos pratos, com algum macarrão, feijão, arroz, tudo misturado… A fome me fazia comer tudo, e com muito gosto. O sofrimento e as decepções do mundo me fizeram, aos poucos, mergulhar no vício: quando dei por mim, tinha me tornado um alcoólatra.
Por fim, trouxe minha família pra morar em Caicó, cidade um pouco maior. Lá, eu tinha trabalho como músico. Vivia sempre “atolado” nas coisas do mundo e longe de Deus. Não sabia nem rezar o Pai-Nosso.
Um dia, junto com meu papai Bil Medeiros, entrei na Filarmônica do Exército e fomos morar no Amazonas. Lá eu encontrei a “Vida dos Santos”. Lendo-a, disse para mim mesmo: “Quero seguir este caminho”, foi como o despertar da minha vocação.
Tive muita ajuda das Irmãs missionárias salesianas e dos Padres salesianos de São Gabriel da Cachoeira, AM. Lutei muito, vivendo o PHN (‘Por Hoje Não’, o lema dos Alcoólicos Anônimos).
Entretanto, ao mesmo tempo em que eu ia descobrindo Jesus e a Igreja Católica, foi nascendo dentro de mim a vocação missionária-contemplativa. Por fim, deixei de uma vez o alcoolismo no AA. Graças a Deus, são dezenas de anos vivendo a sobriedade total; sou sustentado pelo Sacramento da Confissão e vivo a espiritualidade mariana em tudo: casamento, vocação, oração, amor aos mais sofridos.
Sou muito feliz por ser católico. Amo as “Três Alvuras” de Deus: a Imaculada Conceição, a Eucaristia e o Santo Padre, o Papa. Toco de casa em casa para os enfermos, pacientes terminais, pobres, famílias em crise, “fazendinhas” para recuperação de drogados, etc. Quantas pessoas hoje são colaboradoras dessa Obra de Deus por meu intermédio, no Brasil inteiro! Na calada da noite, nas conversas (confidenciais) eu peço: “Ame a Deus em primeiro lugar. Você vai mudar de vida, para melhor!”.
Sou casado, pai de 3 filhos, e avô de dois netos! Estou completando este ano 40 anos de conversão, compartilhando com os leitores de “O Fiel Católico” a história da minha vida.
Breve biografia: Urbano Medeiros (*31/10/1956) é saxofonista reconhecido internacionalmente. Ficou marcado na música por intermédio do acordeonista Sivuca, que conheceu num concerto musical em São João do Sabugi. Ainda adolescente, com 17 anos, foi nomeado pelo Ministério da Cultura como “o maestro mais jovem do Brasil”, já que era regente da Filarmônica do Colégio Estadual de Caicó.
Foi radialista, ator, arte-educador e comunicador, além de se apresentar como músico instrumentista erudito. Urbano Medeiros tem três flhos e dois netos. Já passou por quase 5000 cidades do Brasil e do mundo divulgando a cultura brasileira e tocando com finalidades terapêuticas para pessoas doentes.
Fonte: O Fiel Católico – Ano 2015 # 13 – Catequese, Apologética, Doutrina, Teologia e Filosofia.
2 pensou em “O testemunho de conversão de Urbano Medeiros”
Muito interessante! Shalom, irmão querido!!!!!
O testemunho de um convertido ao CATOLICISMO é muito forte. Converte o coração da gente. Obrigada, irmão. Merece mais divulgação neste mundo doente, ateu e pagão…