Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 18 a 24 de maio/2015 | Ano 9 – Nº 680.
Marcos Antonio Fiorito *
Nossos três últimos artigos foram dedicados ao assunto do pecado original. No último, concretamente, tratamos a respeito das consequências produzidas por ele. Recordamos as palavras da Escritura que sentenciaram o homem ao estado presente: “… maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar” (Gn 4, 16-19).
Mas de todas as consequências, a mais incompreensível à maioria dos homens é a do sofrimento. Não compreender por que razão se sofre leva muita gente à revolta e desespero. É comum ver pessoas exclamarem: “Não fiz nada para Deus me tratar assim!” Ou: “O que eu fiz para Deus permitir que isso acontecesse?!”
Na realidade, Deus jamais nos trata na medida de nossas faltas. Tanto que Davi exclama: Se tiverdes em conta nossos pecados, Senhor, Senhor, quem poderá subsistir diante de vós? (Sl 129, 3)
Portanto, o sofrimento é uma consequência do pecado original e não um castigo. Ele é um verdadeiro purgatório na terra. Ninguém escapa do sofrimento, ainda que aos nossos olhos pessoas muitas vezes abastadas, de fama, prestígio e poder pareçam gozar de verdadeira felicidade terrena. Na verdade, muitas delas escondem um grande vazio interior e um sentimento de profunda frustração. Não é à toa que muitas dessas pessoas se suicidam ou submergem no mundo da droga.
Por isso São Paulo nos ensina que “a nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável. Porque não miramos as coisas que se veem, mas sim as que não se veem. Pois as coisas que se veem são temporais e as que não se veem são eternas” (II Cor 4, 17).
Com essas palavras, o Apóstolo não só nos ensina que os sofrimentos – vividos de maneira cristã – resultarão em glória, como nos sugere que o fato de sofrermos contribui para que nos mantenhamos desapegados, para que compreendamos que a vida terrena é transitória e insignificante se comparada à recompensa final.
Sabemos por experiência própria que para todo prêmio cabe uma prova. Por isso na terra vivemos em contínuo estado de provação; e o sofrimento tem parte essencial nisso. Cristo, quando nos convidou a segui-lo, afirmou: “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me.” (Lc. 9, 23).
Os santos, em seus escritos, nos deixaram belos ensinamentos a respeito. Santa Rosa de Lima, por exemplo, afirma que “fora da cruz não existe outra escada por onde subir ao Céu.” Santa Teresa, a grande, diz: “Vemos sempre que os mais chegados a Cristo, Nosso Senhor, foram os que passaram pelos maiores sofrimentos. Consideremos quanto sofreu sua gloriosa Mãe.”
E finalizo este artigo com um tweet de Sua Santidade, o Papa Francisco, com data de 31 de outubro de 2013: “Um cristão sabe enfrentar as dificuldades, as provações e também as derrotas, com serenidade e esperança no Senhor.”
* O autor é teólogo e redator católico
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)
Veja também: As consequências do pecado original