Artigo publicado no Jornal Barra Notícias, edição de 7 de setembro de 2017, ano 1, nº 1.
Marcos Antonio Fiorito *
“Muito prazer em conhecê-lo(a)!” Quantas vezes você já ouviu isso saindo dos lábios de pessoas que você nunca viu na vida? É uma expressão comum, que tem tudo a ver com as regras de polidez, boas maneiras, educação, etc. Mas há gente menos generosa para com certas gentilezas e chama a isso de “mentira social”.
Nosso mundo está repleto disso! Por exemplo, na câmara de deputados de qualquer Estado vive-se um fuzuê parlamentar que assusta. Algumas vezes as discussões chegam até as vias de fato. A discordância e as querelas entre os políticos é algo constante. No entanto, um parlamentar costuma referir-se a outro como “nobre deputado”, “excelência”, “excelentíssimo”, etc. Ou seja, temos um flagrante e costumeiro caso típico de cinismo social.
As redes sociais também estão cheias disso. Uma pesquisa apontou que a maioria das pessoas que postam o famoso emoticon de riso ou gargalhada não acharam graça nenhuma no que lhe foi compartilhado. O mesmo no que diz respeito à abreviação de risos (rsrs). Idem para emoticons que denotam tristeza, pena, compaixão, etc. Naturalmente isso vale para outros sentimentos.
E aqui cabe uma indagação: por que tornou-se tão difícil às pessoas serem elas mesmas e terem personalidade para discordar? A pesquisa mencionada não afirma que todo mundo que ri ou manifesta tristeza está só querendo agradar, mas, sim, que uma boa fatia dos usuários de Facebook, Messenger, WhatsApp, etc., tem medo de discordar da maioria.
Discordar do que a massa pensa pode levar o contestador a ser vítima de um espancamento virtual. E aí está o segredo da disseminação bem sucedida da mentalidade politicamente correta. Se alguém chama um cão de vira-lata, o politicamente correto logo reage e diz: “Como? Você disse vira-lata? Isso é feio! Devemos dizer: cão sem raça definida”. Se alguém diz que tal pessoa é gorda, o politicamente correto contra-ataca e diz: ela não é gorda, está só acima do peso. Se você diz que alguém é inválido, o militante irá lhe corrigir e dizer que a pessoa é portadora de deficiência física ou portadora de necessidades especiais…
A coleção não para por aí! Chamar alguém de cego também passou a ser ofensa. O correto é dizer “deficiente visual”. Surdo ou mouco também deve ser reprovado. O correto é dizer “deficiente auditivo”…
E para quem gosta de História, interessante saber que nas décadas de 60 e 70 era muito comum o uso da expressão “excepcional”, designada para pessoas com problemas de deficiência intelectual. Aí vieram os gênios e fizeram notar que quem tem capacidade acima da média também é um excepcional. E nesse caso, é preciso dizer, a coisa está muito bem avaliada.
Mas voltando à questão, vale reconhecer a queixa dos cidadãos que não aceitam a imposição dos politicamente corretos. Segundo eles, o mundo está cada vez mais chato, pois não se pode fazer nenhuma brincadeira sobre o nariz comprido de alguém (como o do autor deste artigo, que, no caso, tem uma napa bem grandinha) que logo vêm aqueles bitolados e taxam o brincalhão de preconceituoso.
A coisa chega a ser tão grave, que num artigo sobre inclusão na educação, a autora reprova o uso do termo “normal” para as crianças não-deficientes. Segundo ela, não são “normais”, mas “ditas normais”. Ou seja, estamos invertendo a ordem das coisas a tal ponto, que até por ser normal você passa a sofrer preconceito…
* O autor é teólogo e escritor. | [email protected]
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)