Alguns vão dizer que nada se sucede à morte cerebral, que seria o fim de tudo. No entanto, não é nisso que creem os cristãos. Para os cristãos, a vida humana não se limita ao limitado tempo de, no máximo, 100 ou 140 anos. Para o cristão, o falecimento marca a passagem do tempo para a eternidade. Sendo assim, alguém pode perguntar: por que as pessoas, no tempo, celebram missas por quem saiu do tempo? Onde entra o Purgatório nessa história?
O Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo é sua Esposa, a Santa Igreja Católica. Sendo o Senhor Deus onipresente no tempo e na eternidade, também Sua Esposa se faz presente no tempo e na eternidade. Assim, a Santa Igreja Católica tem sua realidade na Terra, no Purgatório e no Céu; sendo a mesma Igreja, em várias realidades.
(I) Para melhor compreender do que se trata o Purgatório, convém recordar a realidade eclesial no Céu, no Purgatório e na Terra.
Os filhos da Igreja – os católicos: na Terra, no Purgatório e no Céu – rezam uns pelos outros, segundo a condição em que se encontram. (1) Os que estão na Terra estão no tempo da provação e oportunidades de santificação, assim, rezam pela conversão e santificação dos demais homens que se encontram na Terra e pela salvação dos que estão no Purgatório. É o período em que se sucedem muitas oportunidades de santificação e muitas tentações à perdição; períodos de provações e chances de crescer no amor e nas demais virtudes. O tempo de vida é, portanto, também um período de chance de purgação do que afasta o cristão de Deus e chance de buscar as coisas do Alto. (2) Os que estão no Purgatório, após o falecimento, já passaram pelas provações que ocorrem no tempo e já estão salvos, mas não se encontram em plenos estados de pureza e santidade, com vestígios de suas concupiscências (propensão ao pecado), traduzidos nas sanções das penas temporais decorrentes dos pecados cometidos. Eles podem rezar pelos filhos da Igreja na Terra, só não podem rezar por eles próprios, motivo pelo qual precisam muito de nossa misericórdia orante. (3) Os que já se encontram na Pátria Celeste, no Céu, já se realizaram em plena santidade, pureza e perfeição. Eles, que já não precisam de orações (pois já lhes é garantido que suas eternidades são em Deus e já foram provados à santidade) rezam a Deus pela humanidade que ainda está na Terra ou no Purgatório. Portanto, há uma solidariedade intrínseca, onde os membros da Igreja rezam uns pelos outros, conforme o estado de cristificação de cada um.
A Igreja é santa, pois é o santo Corpo de Cristo; mas se faz presente em meios não totalmente santos para salvar e santificar os que a aceitam e, por meio dela, buscam se realizar no Corpo de Cristo, ouvindo-O, adorando-O e se transformando cada vez mais profundamente no santo Corpo de Cristo.
(II) Por que celebrar missa pelos falecidos?
A missa pelos falecidos é uma oportunidade de crescer no amor e na fé, por colocar aos cuidados da misericórdia divina os entes pelos quais se reza, efetuando uma prática caritativa de querer o bem do próximo. Além de servir para o conforto dos corações dos que ainda não partiram, eleva a Deus uma súplica pela salvação daquele que partiu.
A questão é que quem morre só pode ser salvo ou condenado. Não há meio termo. (A) Se um indivíduo é condenado, vai ao Inferno para cumprir sua pena eterna, vivendo para sempre sem as consolações do amor de Deus. Ao condenado ao Inferno, de nada adiantam as orações. (B) Se o indivíduo é salvo, pode ir direto para o Céu ou passar pelo estágio de Purgatório. Se já está no Céu, não precisa mais de orações. Se está no Purgatório, as orações abreviam a duração da purificação, agilizando a ida para o Céu. Portanto, as orações pelos falecidos podem ajudar muito às almas dos que se foram.
As almas dos que rezam lançam amor às almas dos demais. Se o indivíduo está no inferno se incomoda com o amor, pois já não podem amar nem sentir o amor. Se o indivíduo está no Purgatório, recebem conforto e impulso para subir ao Céu. Se o indivíduo já está no Céu, alegra-se com o amor de quem reza e reza junto com tal pessoa, derramando graças e as bênçãos de Deus sobre a pessoa orante, dando-lhe paz e forças à caminhada.
Quanto mais difícil a experiência de Purgatório, mais a pessoa em tal situação precisa de oração. A maior das orações é a Santa Missa, pois ali está o Sacrifício do Cordeiro de Deus, a doação de Jesus na Cruz. De modo que é importantíssimo não apenas rezar, mas também celebrar missas por aqueles que já faleceram.
Rezar pelos outros é um ato de amor por meio do qual, buscando auxílio do Céu, a pessoa vai ao encontro do outro, direta ou indiretamente. Quando não se pode ir a alguém diretamente, pode-se fazer o Bem, pedindo a quem possa. O amor é sempre maior que as fronteiras!
Dado em Maceió, 28 de abril de 2016.
Na expectativa que este texto ajude o leitor a se tornar mais orante e dedicado à salvação das almas. No amor da Santa Igreja e da Virgem Maria. Sob as súplicas à misericórdia do Sagrado Coração de Jesus,
Alisson Francisco Rodrigues Barreto[1]
[1] Poeta, filósofo, bacharel em Direito, pós-graduado. Ex-seminarista, blogueiro católico e servo pobre.
Veja também: Rezar pelas almas