Para tornar sensível aos olhos a atitude dolorosa da Igreja no Tempo da Paixão, vela-se as imagens sagradas no sábado que precede esse período.
Esta é uma herança do antigo rito destinado aos penitentes públicos que começava nos dias em que a Igreja medita de modo especial a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim apresentavam-se os penitentes no primeiro dia da Quaresma, em trajes e atitudes humildes, como Deus fez a Adão e Eva, após o pecado que os expulsou do Paraíso. O penitente era enviado até a Quinta-Feira Santa a algum monastério para praticar atos de mortificação.
Esta cerimônia perdurou até o século XVI, em que, por devoção, a penitência pública e a recepção da cinza foi ampliada para a generalidade dos fiéis que já não eram enviados para fora do templo, como se fazia com os penitentes de antigamente. Para lembrar, no entanto, o suprimido rito e mantê-los na humildade, se lhes isolou, já que não da igreja, do presbitério, o altar, através de uma cortina vermelha. Pouco a pouco, sem dúvida por não ser prático este sistema com relação às cerimônias litúrgicas, essa cortina foi encurtada e reduzida o véu atual que cobre as imagens dos santos e a cruz.
Os liturgistas simbolistas viram neste rito um recurso piedoso para representar materialmente o fato de ter que se esconder o Senhor no templo para escapar ao furor dos seus inimigos que tentaram apedreja-lo. Também nos recorda que Nosso Senhor Jesus Cristo velou sua divindade na sua Paixão, permitindo-se torturar e morrer, como um homem criminoso.
Extraído do livro “La Flor de la Liturgia” de Dom Andrés Azcarate O.S.B