Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 20 a 26 de outubro/2014 | Ano 8 – Nº 653.
Marcos Antonio Fiorito *
“Não chores, meu filho; não chores, que a vida é luta renhida: viver é lutar. A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos só pode exaltar.” Assim descreve a vida o famoso escritor Gonçalves Dias, joia da Literatura brasileira.
Se tomarmos as Sagradas Escrituras e abrirmos no livro de Jó, na história daquele valente justo que teve todos os seus bens roubados, devastados, sua família destruída e sua saúde deteriorada, encontraremos às tantas uma frase em tudo consonante com a de nosso grande literato: “Militia est vita homnis super terram” (“A vida do homem na terra é uma luta”) (Jo 7, 1).
A ideia de que nascemos numa terra de exílio, por conta do pecado original, de que devemos ganhar o pão com o suor de nosso rosto e que ela produzirá abrolhos e espinhos era muito presente no passado. Sobretudo se pensarmos que invasões, guerras contra vizinhos, guerras intestinas, guerras civis, disputas dinásticas, golpes de estado, etc., eram muito mais frequentes que em nossos dias, sobretudo no continente europeu.
O número de mortos e os estragos feitos pelas Primeira e Segunda Grande Guerra é algo estarrecedor. Consequentemente, isso tudo fazia com que nossos antepassados tivessem uma espécie de familiaridade com a ideia da luta, de que nesta vida devemos estar preparados para a batalha.
À pergunta: “Como tem passado?”, não era incomum ouvir a seguinte resposta: — “Na luta do dia-a-dia!”.
Mas eis que veio a ascensão dos EUA e com ela as produções de Hollywood. Os filmes exibidos no cinema disseminavam em doses cavalares o “american way of life” (o jeito americano de viver), onde tudo terminava num mar de rosas, num romântico “happy end” (final feliz). Aos poucos, a ideia de luta foi dando lugar à ideia de paz e felicidade absolutas conquistadas já nesta terra, contrapondo-se ao ideal cristão, protagonizado por Nosso Senhor Jesus Cristo: “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me.” (Lc. 9, 23).
Isso não exclui que tenhamos momentos de alegria e prazeres lícitos, tal seria. Para a doutrina cristã, o homem pode alcançar nesta terra uma felicidade relativa, desde que cumpra os Mandamentos. Já a felicidade absoluta e eterna ele só a encontrará no Céu, com a visão beatífica de Deus. É com esse propósito que o Senhor nos presenteou com a virtude da esperança, para não desanimarmos diante das dificuldades e confiarmos na vitória final. Aí, sim, temos o verdadeiro “happy end” cristão.
Por isso São Paulo nos diz: “A nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável. Porque não miramos as coisas que se veem, mas sim as que não se veem. Pois as coisas que se veem são temporais e as que não se veem são eternas” (II Cor 4, 17).
O meu intento ao escrever este artigo é justamente pensando em nossos filhos. Se queremos vê-los bem sucedidos, devemos prepará-los para o campo de batalha. Devemos preparar os nossos filhos como guerreiros, pois, como diz o Hino do Apostolado da Oração: “É renhida e constante esta guerra, é a herança dos filhos de Adão!” (2Ti 2, 3).
* O autor é teólogo e redator católico
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)
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