Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 09 a 15 de novembro/2015 | Ano 9 – Nº 704.
Marcos Antonio Fiorito *
Muito se fala do Poverello de Assis (São Francisco), porém poucos sabem em que contexto histórico ele nasceu. Após as Cruzadas, o ambiente da Europa medieval já não era aquele de costumes simples e sóbrios. O contato com o luxo, os tesouros e o requinte do Oriente despertaram no europeu um desejo desenfreado por riquezas, terras, poder e senhorio. A soberba grassava entre os nobres e senhores feudais.
Muitos abades, padres e bispos viviam de forma pouco condizente com o Evangelho, acumulando títulos, posses e dinheiro.
É diante de tal decadência que Deus elege Giovanni Bernardone, filho de um rico comerciante, à vocação de se opor ao orgulho e à cobiça daquela época. E ele não hesita um só instante em abraçar o seu chamado. Deixa tudo, absolutamente tudo — até a roupa do corpo! — para entregar-se a uma vida de extrema pobreza, castidade e obediência heroicas. Fez questão, inclusive, de abandonar o nome de família. Doravante, chamar-se-ia apenas Francisco. Qual Francisco? Aquele de Assis…
Sua vida, seu exemplo e sua santidade arrastaram inúmeros outros homens de fé, que deixaram tudo para servir a Deus seguindo os conselhos evangélicos. Nascia, assim, a venerável família franciscana. E quanto bem fizeram! Verdadeiramente frearam os males daquele tempo.
Quarta-feira última, dia 04, nos deparamos com a notícia estrondosa de que dois livros foram lançados denunciando graves irregularidades na gestão de finanças do Vaticano, entre outras… O novo escândalo foi batizado de Vatileaks II, em alusão ao caso de 2012, que teria desgastado o pontificado de Bento XVI e que precedeu à sua renúncia.
Segundo os autores, cardeais desviaram dinheiro que estava destinado aos pobres e doentes para alimentar uma vida de fausto e luxo. As notícias também dão conta que o Papa Francisco enfrenta uma forte resistência à reforma da cúria romana. E ao saber de tais revelações, reiterou que irá dar continuidade às reformas do Vaticano: “Sigamos em frente com confiança e determinação”.
Na contramão dos escândalos, temos uma recente homilia do Papa, durante Missa rezada na Casa Santa Marta (19/10), em que ele diz que Jesus não condena a riqueza, mas o apego a ela:
“O apego às riquezas é uma idolatria” (…) Não é possível “servir a dois senhores”: ou se serve a Deus ou ao dinheiro. (Fonte: (http://br.radiovaticana.va).
E, mais recentemente, em outra homilia na casa Santa Marta (06/11), afirmou:
Bispos e sacerdotes vençam as tentações de “uma vida dupla”, a Igreja deve servir aos outros e não se servir dos outros” (Fonte: (http://br.radiovaticana.va).
Tais fatos nos fazem refletir de modo particular naquele memorável 13 de março de 2013, dia em que o novo Papa foi eleito. Recordemos que apesar de pertencer à Companhia de Jesus, Jorge Bergoglio escolheu para si o nome de Francisco. E, naturalmente, tal atitude intrigou a todos. Porém, o novo Pontífice esclareceu que o motivo era o zelo franciscano pelos pobres, a sua simplicidade, sua missão de paz, proteção e amor às criaturas… É como os fiéis costumam dizer de forma singela: “Não existe coincidência, mas Providência.”
* O autor é teólogo e redator católico
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)
Veja também: Por que precisamos de padres?
Um pensamento em “São Francisco, o Vaticano e Francisco…”
Como peregrinos nesta Igreja Caminhante, necessitamos, urgentemente, pedir a Cristo Jesus a graça de sermos cristãos, na força do Espírito Santo, praticante dos conselhos evangélicos: pobreza, castidade e obediência, como direção principal do nosso agir de cristão. PAZ e BEM.