Por Alisson Francisco[1]
O tema de hoje traz duas questões importantes sobre o purgatório: (1) as almas do purgatório são pessoas? (2) As almas do purgatório são desesperadas? É o que se explicará nas linhas a seguir.
A primeira pergunta já foi respondida em outros textos deste que vos escreve, mas será respondida com algumas comparações simples: quando se diz que Fulano tem um coração do tamanho do mundo, sabe-se que o coração da pessoa é do tamanho normal, mas é uma pessoa de boa índole, boas intenções, de virtudes caridosas. Quando se diz que Jesus se encarnou no seio de Maria, sabe-se que Ele Se fez homem no ventre, não no seio; mas se diz no seio para se enfatizar o coração amoroso que O recepciona. Talvez a expressão popular que melhor realce a situação é a de quem está tão disposto a ouvir a outra pessoa e diz: “pode falar, que sou todo ouvidos!”. Ora, não existe uma pessoa que só tenha ouvidos e nenhuma outra parte do corpo; mas a expressão evidencia a característica que mais está destacada naquele momento: ser totalmente dedicado ao ato de ouvir.
Portanto, fica evidente que a expressão “alma do purgatório” se refere a uma pessoa, em situação purgante. Ou seja, alguém que está em situação purificadora de preparação para a bem-aventurança eterna: o Céu.
A segunda pergunta – não menos importante, mas também muito mal entendida – costuma ser mal utilizada por desconhecimento de seu significado. É comum escutar frases do tipo “Fulano correu desesperadamente por um lugar no pódio”. Tal expressão é contraditória em sua natureza: se está correndo por um lugar no pódio é porque tem esperança de ter um lugar no pódio.
O desespero é característica de quem não tem esperança nem mesmo em Deus. Aliás, se alguém tiver esperança não ligada a Deus, tal pessoa tem, desgraçadamente, uma falsa esperança. Pois fomos criados por Deus e tudo o que é verdadeiramente bom vem d’Ele, inclusive a virtude da esperança.
É importante notar que a esperança não tem origem no homem, é uma virtude teologal: infusa por Deus no coração humano. De modo que – sabendo que o purgatório não lugar de destino de ninguém, mas apenas uma passagem para o Céu – quem está no purgatório sabe que vai para o Céu, que não reencarnará nem será destinado ao Inferno. Motivo pelo qual não tem como perder a esperança na salvação, por mais dolorosa que possa ser sua purificação.
Uma alma do purgatório pode até sofrer o não recebimento de consolação de Deus, mas a esperança de ser salva é uma chama cuja fé lhe acendeu e que a guiará para a Morada Celeste.
Em suma, a fé nos indica que as almas do purgatório são pessoas em passagem purificadora para a Morada Celeste e a virtude da esperança é uma estrela a brilhar em seus peitos, guiando-as para a Pátria Definitiva.
Dado em Maceió, 20 de junho de 2016.
Alisson Francisco Rodrigues Barreto.
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[1] Alisson Francisco Rodrigues Barreto é poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado; ex-seminarista e missionário católico por força do sacramento da Crisma.