Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 31 de outubro a 6 de novembro/2016 | Ano 10 – Nº 752.
Marcos Antonio Fiorito *
Se você, nobre leitor, parar para pensar, notará que existe uma série de refrãos contra a Igreja repetidos invariavelmente pelo povo desavisado. Faz parte do modismo papagaiar pseudoverdades com ares de espírito superior. Por exemplo, quem nunca ouviu a célebre afirmação de que Galileu foi queimado pela inquisição? Pois é, isso nunca aconteceu. Pelo contrário, quando estava mal à morte, o próprio Papa mandou um representante seu para dar-lhe os últimos sacramentos.
Outro é aquele que diz que Lutero levantou-se contra a Igreja porque estava escandalizado com a venda de indulgências, sendo que o próprio afirmou que quando se meteu a atacar as indulgências, sabia tanto quanto os fiéis que iam lhe perguntar sobre o assunto… Na verdade, a história de Lutero e da Reforma Protestante vai muito além do que contam os livros escolares e do que se ouve, comumente, por aí.
E, claro, você já ouviu centenas de vezes que a Igreja deveria vender as riquezas todas do Vaticano e distribuir o dinheiro aos pobres, imitando melhor a vida simples de Jesus. Muita gente ouve isso e não para sequer um minuto para pensar no quanto essa afirmação tem de inócua.
Primeiramente, levemos em consideração que o Estado do Vaticano é o menor país do mundo, tem 0,44 km². Ou seja, é minúsculo. Ele não é simplesmente um palácio, um luxo particular de alguém, mas é a sede de um país e o centro administrativo e representativo da Igreja. Desfazer-se do Vaticano é a mesma coisa que deixar a Igreja sem governo e representação.
Se o Vaticano, como sede de um governo legitimamente instituído, deve desfazer-se de seu minúsculo patrimônio, de seu para lá de limitado tesouro, por que não dizer o mesmo da Inglaterra, da Alemanha, Japão ou, melhor ainda, dos EUA? Já pensaram na soma vultuosa de dinheiro que poderia se arrecadar se as nações mais ricas se desfizessem de seus tesouros e distribuíssem o dinheiro aos pobres?
Já pensaram se os trilhões de dólares empregados inutilmente pela Nasa em busca de vida em outros planetas fossem canalizados para a África? Seria possível, sim, mudar a face daquele continente e solucionar um sério problema humanitário.
Quanto ao Vaticano, depois de delapidados os seus museus e vendidos todos os seus bens, o dinheiro recolhido seria capaz de atender, quiçá, a um país da África, e por bem pouco tempo, por sinal…
Bom ter presente que o patrimônio artístico do Vaticano é um tesouro que pertence à civilização, não é exclusivo da Igreja. Ele tem sua função social, gostem os críticos ou não, e narram séculos de História. Os afrescos não podem ser arrancados das paredes e vendidos como se fossem quadros.
Em matéria interessante exibida recentemente pelo canal History Chanel, revelou-se a origem da renda do Vaticano: bilhetes de entrada do museu, duas pequenas lojas dentro das dependências do Vaticano, venda de selos e moedas comemorativas. Bom saber que o Vaticano não cobra impostos e vem fechando seus últimos anos no vermelho…
* O autor é teólogo e docente de ensino superior
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