Artigo publicado no jornal Alagoas em Tempo, edição de 12 a 18 de janeiro/2015 | Ano 9 – Nº 663.
Marcos Antonio Fiorito *
Entre as frases mais comuns proferidas pelos lábios de nossos antecessores, está aquela que exprime assombro: “Será o fim do mundo?” Na verdade, ela ainda é repetida por muita gente, e todas as vezes que nos deparamos com algum fato absurdo.
É curiosa a ligação que a humanidade faz do declínio moral com o fim dos tempos. Pode-se perscrutar que além de uma natural intuição por parte do gênero humano, temos a crença cristã, fundamentada no Evangelho – sobretudo no Livro do Apocalipse –, por onde se credita à decadência dos bons costumes, e a toda sorte de corrupção, uma aproximação com o reino de Satanás.
Juntemos a isso cataclismos, grandes desastres, atos terroristas de especial magnitude, como foi o de 11 de setembro de 2001. Com isso tudo temos um panorama que traz consigo, aparentemente, alguns dos sinais necessários para a segunda vinda de Cristo.
Mesmo entre os primeiros cristãos, havia aqueles que interpretaram para breve o retorno de Jesus. A tal acontecimento intitulou-se de “parusia”.
“A respeito, porém, daquele dia ou daquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do céu nem mesmo o Filho, mas somente o Pai.” (Mc 13,32).
Hoje, infelizmente, vemos que muitas religiões, através de seus ministros, apregoam levianamente e pelos quatro ventos a iminência do fim dos tempos e, respectivamente, a parusia final. E isso não é de agora. Há séculos algumas seitas que se autodenominam cristãs estabeleceram inúmeras datas para o fim do mundo. Como vimos, pelas palavras do próprio Jesus, o dia e a hora foram ocultados ao homem. Então como pode alguém ou uma religião ousar estabelecer datas precisas para tais acontecimentos?
Jim Jones não foi o único chefe de seita a se utilizar do fim do mundo como um instrumento vil de exploração. A pregação do fim do mundo tem sido moeda corrente por parte de pastores mal intencionados, que se utilizam do medo para recrutar e manipular adeptos. Muitos deles, longe de objetivar a evangelização, buscam através da religião, tão somente, angariar fundos para aumentar o seu patrimônio.
Sem contar a exploração sensacionalista. Recentemente, o site do canal History trouxe o assunto à baila através de um artigo, em cujo título o Papa Francisco é chamado de o “papa do fim do mundo”.
Segundo a matéria, Nostradamus teria se referido ao Sumo Pontífice como o “papa negro”. Diz que ele será o último papa antes de se realizar as previsões do Apocalipse. Fala de doenças mortais, pragas, catástrofes, cataclismos, etc. Juntam às previsões de Nostradamus uma profecia de São Malaquias, que também afirma que Bergoglio seria o último Papa antes do fim dos tempos.
Para concluir, cabe aqui uma pergunta: o que lucram os cristãos com todas essas especulações? Provavelmente nada. Pelo contrário, a exploração dos sagrados textos da Escritura provoca desgaste, zombaria e matéria para muita gente desacreditar da religião e seus ministros.
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação do autor.)
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